Weekly Note
EUA e China assinam 1ª fase de acordo comercial
Sixty Degrees mantém cenário base para 2020
Na passada semana, os EUA e a China assinaram a Fase Um do seu acordo comercial, após dois anos de disputas aduaneiras, onde se comprometem a não impor novas subidas futuras de tarifas entre ambos.
Os EUA suspenderam a tranche de tarifas que já estava programada e reduziram de 15% para 7,5% as taxas aduaneiras sobre 120 mil milhões de dólares de importações oriundas da China. Ao mesmo tempo, o Departamento do Tesouro norte-americano anunciou que deixaram de designar a China de “manipulador cambial”.Por seu lado, a China terá de assegurar que nos próximos dois anos as suas importações dos EUA terão de superar em 200 mil milhões de dólares, um montante idêntico ao registado em 2017. Em específico, a China deverá efetuar compras adicionais, aos EUA, de 77,7 mil milhões de dólares em produtos manufaturados, 52,4 mil milhões de dólares em bens energéticos, 37,9 mil milhões de dólares de serviços e 32 mil milhões de dólares de produtos agrícolas. Pequim compromete-se ainda em implementar algumas reformas específicas, nomeadamente ao nível da proteção de propriedade intelectual, da facilitação do acesso ao setor financeiro por parte de players americanos, bem como da redução da pressão para transferência forçada de tecnologia das empresas americanas que investem em território chinês. A China aceitou ainda, o estabelecimento de um mecanismo de controle subjacente ao acordo, mediante o qual, em caso de incumprimento, os EUA poderão voltar a subir as taxas aduaneiras num prazo de 90 dias.
O presidente Donald Trump, que ordenou a investida fatal sobre Soleimani, afirmou que o general estaria a planear ataques contra norte-americanos presentes no Médio Oriente. O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, prometeu uma “vingança severa” e anunciou a renúncia do Irão aos limites de enriquecimento de urânio estabelecidos no acordo nuclear de 2015.
A China compromete-se a aumentar as importações provenientes dos EUA em vários setores
As motivações para a celebração deste acordo são diversas entre as partes. Do lado dos EUA, é natural que Donald Trump, enquanto candidato à presidência dos EUA, tenha considerado favorável alcançar e anunciar um acordo desta natureza num ano de eleições presidenciais. Por outro lado, a recente crise no mercado de “repo’s”, no sentido em que retira poder à Fed para ajudar a economia, poderá também ter tornado mais urgente encontrar uma solução rápida para ultrapassar o conflito entre as duas super-potências. A China, por seu lado, poderá estar preocupada com o abrandamento do seu ritmo de crescimento económico e com a instabilidade doméstica que daí poderá resultar.
O acordo alcançado tem vindo a ser alvo de críticas por não representar um entendimento alargado entre as partes. De facto, o grosso da pressão alfandegária sobre a China irá manter-se por mais algum tempo, com a manutenção em vigor das tarifas, impostas por Trump, sobre 360 mil milhões de dólares de produtos chineses. Por outro lado, a China recusou-se a intervir em áreas onde a reivindicação americana tem sido mais forte, nomeadamente ao nível dos elevados subsídios atribuídos pelo estado chinês às suas empresas, que tem possibilitado o seu rápido crescimento internacional, e ao nível do hacking a empresas e instituições americanas. Em suma, as partes concluíram que nesta fase seria benéfico alcançar uma base de entendimento, mas não quiseram recuar nas suas posições chave. Donald Trump afirmou que, posteriormente, poderão ser iniciadas negociações com vista à obtenção de uma Fase Dois do acordo, mas sem se comprometer com o timing dessa solução.
Tal como referido acima, no âmbito deste acordo, os EUA deixaram de rotular a China como “manipulador cambial”. De facto, em agosto passado, o governo americano tinha acusado formalmente a China de desvalorizar a sua moeda com o intuito de tornar as exportações chinesas mais competitivas. É nosso entender que estas acusações não têm fundamento. Pelo contrário, a China tem agido no sentido de suportar a sua moeda por forma a que esta mantenha um estatuto de referência. Seria até do interesse de Pequim, poder deixar a sua moeda depreciar para evitar a migração do seu setor manufatureiro para os países asiáticos mais competitivos, mas a sua ambição em tornar o Yuan uma moeda de relevo internacional não lho permite. A administração Trump parece estar assim com alguma dificuldade em interpretar a valorização do dólar, a qual parece decorrer da tendência que se verifica ao nível dos fluxos de capitais, em fuga das regiões economicamente mais fracas, tais como Europa e Japão, em direção aos EUA.
A guerra comercial não parece ter surtido um impacto material no crescimento económico dos EUA e da China. No caso dos EUA, a economia tem mantido o ritmo de crescimento superior a 2,0%, sendo a estimativa do FMI de 2,4% para o ano de 2019, como um todo. O consumo das famílias, que representa mais de dois terços do valor do PIB, continuou a registar um desempenho sólido, assente também na forte dinâmica do mercado de trabalho. O desempenho do consumo mais do que compensou alguma fraqueza do setor industrial, o qual assume um peso cada vez menor na economia. Segundo dados do Congressional Budget Office, a imposição de tarifas, desde janeiro de 2018, deverá ter tido um impacto negativo de apenas 0,3% no crescimento do PIB americano, até 2020.
Na China, o impacto da disputa alfandegária no crescimento económico também não parece ter sido material. Segundo dados do FMI, a economia chinesa terá crescido 6,1%, em 2019, o que representa um abrandamento face aos 6,6%, registados em 2018, e aos 6,8% de 2017. No entanto, trata-se de um abrandamento pouco pronunciado sem constituir uma travagem relevante. A economia chinesa tem vindo a desacelerar em resultado da conjugação de diversos fatores, com especial destaque para o excesso de alavancagem e o para o êxodo do setor manufatureiro para países mais competitivos na sua vizinhança.
A taxa de crescimento do PIB chinês mantém-se acima dos 6% desde 1990
Em suma, a Fase Um do acordo comercial representa apenas o acalmar das tensões entre as duas super-potências, mas sem um impacto económico material em função da manutenção do grosso das tarifas impostas. Assim sendo, o acordo alcançado não altera as nossas convicções para o desempenho da economia mundial, em 2020, publicadas na nossa weekly intitulada Cenário base para 2020. De recordar que, nessa altura, referimos que a economia mundial deverá registar, em 2020, uma ligeira melhoria, mas sem grande exuberância.