Weekly Note
Distribuição da riqueza (e carga fiscal)
Diferentes perspetivas para o caso americano
A desigualdade na distribuição da riqueza é um tema frequentemente abordado e debatido pelos mais variados intervenientes de todos os quadrantes da sociedade. Na presente nota pretendemos oferecer uma perspetiva sobre a evolução desta variável para o conjunto das famílias norte americanas.
Como se pode observar no gráfico abaixo, o coeficiente de Gini nos EUA tem registado uma subida ao longo do tempo, passando de 0,43 em 1990 para 0,49 em 2018. O índice de Gini é uma medida estatística da desigualdade de distribuição de riqueza de uma população. Assim sendo, um valor de 0 corresponde a igualdade absoluta, ou seja, todas as famílias teriam o mesmo valor de riqueza, enquanto que um valor de 1 indicaria desigualdade absoluta, em que apenas uma família seria detentora da totalidade do valor da riqueza. Neste sentido, a subida do índice ao longo do tempo sugere o aumento da desigualdade na distribuição do valor da riqueza nos EUA.
A subida do coeficiente de Gini sugere um aumento da desigualdade na distribuição do valor da riqueza nos EUA
Esta observação também pode ser verificada pela análise do próximo gráfico, onde se constata que, segundo dados da Reserva Federal relativos ao terceiro trimestre de 2019, os 1% das famílias americanas mais ricas detinham cerca de 32% da riqueza total, em claro contraste com os 1% detidos pelos 50% das famílias mais pobres.
1% das famílias americanas mais ricas detêm 32% da riqueza total, enquanto 50% das famílias mais pobres possuem apenas 1% dessa totalidade
No dia 22 de dezembro de 2017, a administração americana sob o comando de Donald Trump, promulgou uma ambiciosa reforma fiscal que incluiu uma importante baixa de impostos para os contribuintes individuais e empresas, aplicada a partir de 2018. Na tabela abaixo podem observar-se as descidas de taxas para os vários escalões de rendimento das pessoas singulares. A par destas medidas, a taxa de imposto máxima sobre as empresas também foi reduzida de 35% para 21%.
A reforma fiscal de Trump incluiu uma baixa de impostos para os contribuintes individuais
Segundo dados da Reserva Federal, no período compreendido entre o quarto trimestre de 2016 e o terceiro trimestre de 2019, os 1% das famílias americanas mais ricas registaram um aumento de 18% na sua riqueza (de 29,18 para 34,53 biliões de dólares), enquanto as 50% famílias mais pobres aumentaram a sua riqueza em mais de 50% (de 1,08 para 1,67 biliões de dólares). Desta forma, em resultado do pacote fiscal levado a cabo pela administração americana, as 50% famílias mais pobres registaram um aumento significativo do seu nível de riqueza no período considerado. Assim sendo, apesar da desigualdade ao nível da distribuição absoluta da riqueza, a verdade é que num período de cortes de impostos, as famílias de menores recursos beneficiam proporcionalmente mais do que as mais abastadas.
Importa também referir que o valor da riqueza das famílias mais ricas inclui uma elevada proporção de ações e fundos de investimento, sendo por isso mais volátil. Tal como se observa no gráfico abaixo, no terceiro trimestre de 2019, os 1% das famílias mais ricas possuíam 39% da sua riqueza em ações e fundos de investimento versus apenas 3% para as 50% famílias mais pobres. O valor da riqueza das classes mais ricas é por isso muito mais volátil, tendo decerto sofrido uma forte redução em consequência das recentes quedas do mercado acionista.
O valor da riqueza das classes mais ricas é mais volátil devido à maior proporção de ações e fundos de investimento
Em suma, a Sixty Degrees reconhece a existência de desigualdade na distribuição do valor da riqueza nos EUA, mas considera interessante salientar a evolução da situação económica das 50% famílias situadas na base da pirâmide populacional, às quais, nos últimos anos, foi proporcionado um significativo aumento da riqueza através de políticas fiscais expansionistas.