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Weekly Note

Economia japonesa

Breve análise dos indicadores económicos mais recentes

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No segundo trimestre do ano, o PIB do Japão caiu 7,8%, face ao trimestre anterior, e 27,8%, em termos anuais, devido à pandemia Covid-19. A queda trimestral foi superior à registada no primeiro trimestre de 2009, no auge da crise financeira global, e representa a maior contração desde 1955. Na presente weekly note, pretendemos fazer um breve ponto de situação da economia japonesa, analisando os indicadores económicos mais recentes.

Em agosto, as vendas a retalho cresceram 4,6% em termos mensais, após uma correção de 3,4%, em julho, superando a estimativa de 2,0% adiantada pelo consensus de mercado. Desde o final do estado de emergência, em maio, tem-se verificado uma recuperação da despesa das famílias, que havia sido reprimida durante o confinamento. Apesar do país ter sido atingido por uma segunda vaga de Covid-19, com especial impacto durante o mês de agosto, o governo lançou o programa Go To Travel, destinado a apoiar financeiramente os japoneses que viajassem dentro do país, o que aparentemente terá permitido a continuação da recuperação do consumo das famílias. Daqui para a frente, o momentum dos últimos meses poderá ser difícil de sustentar até porque os volumes de vendas a retalho já terão regressado aos níveis pré-Covid, em agosto.

As vendas a retalho têm vindo a recuperar desde maio (Japan Retail Sales MoM em %)
Fonte: TradingEconomics.com

Os dados de confiança do consumidor também não deixam antever uma recuperação sustentada do consumo. Tal como se pode observar no gráfico abaixo, o índice de confiança do consumidor situou-se em 32,7 pontos, em setembro, claramente abaixo dos valores pré-pandemia e correspondendo a um nível de sentimento historicamente deprimido. Da análise das componentes deste indicador, destaca-se a lenta recuperação das expectativas das famílias relativamente ao mercado laboral, deixando transparecer o seu receio quanto à contínua deterioração da criação de emprego.

O indicador de confiança do consumidor permanece em níveis baixos
Fonte: Bloomberg

O indicador de labour cash earnings, que mede o rendimento do trabalho incluindo bónus e horas extra registou uma queda anual mais branda em agosto, de -1,3% versus -1,5%, em julho, mas ainda assim aquém do consensus de -1,2%. No entanto, a melhoria mensal deveu-se simplesmente ao facto da maioria dos bónus ser paga nos meses de junho e julho e, como tal, a sua queda, em 2020, ter afetado menos o número de agosto. Em agosto, o indicador de evolução de salários registou um recuo, pela primeira vez este ano, de -0,1%, versus crescimento de 0,2%, em julho. Após a correção dos efeitos de base, a diminuição terá sido de -0,2%, em agosto. Ambos os indicadores são desencorajadores em termos de outlook para o consumo privado.

Em agosto, a taxa de desemprego subiu para 3,0% versus 2,9%, em julho, em linha com o consensus. O número de desempregados aumentou cerca de 90 mil, correspondendo à maior subida desde maio e deixando transparecer os efeitos da segunda vaga de Covid-19 sobre a economia japonesa. De qualquer forma, a subida de apenas 0,8pp. na taxa de desemprego, desde o início do ano, parece fornecer uma falsa sensação de segurança sobre o mercado laboral. Tal como se pode observar no gráfico abaixo, o número de trabalhadores temporários está longe de recuperar face à redução de cerca de 1 milhão, em abril. Por outro lado, o número de desempregados deverá aumentar quando o governo terminar o programa de layoffs.

O número de trabalhadores temporários não registou recuperação após a reabertura da economia
Fonte: Pantheon
A taxa de desemprego poderá aumentar quando o governo terminar o programa de layoffs
Fonte: Bloomberg

O rácio job-to-applicant, que mede a oferta de empregos existente face ao número de pessoas à procura de emprego, caiu para 1,04, em agosto, versus 1,08 ,em julho, abaixo do consensus de 1,05. O número de pessoas à procura de emprego aumentou 71 mil, em agosto, e se a tendência se mantiver irá superar o número de vagas já antes do final do ano, situação que não se verificava desde 2013. Este desequilíbrio deverá pressionar em baixa a evolução dos salários, comprometendo a recuperação do consumo das famílias.

Em agosto, as encomendas de maquinaria aumentaram 0,2% em termos mensais, versus 6,3% em julho, acima do consensus de -1,0%. Aparentemente, estes dados deveriam ser um bom sinal para a evolução futura do investimento, mas são necessárias algumas reservas. Corrigidas do efeito sazonal, as encomendas de maquinaria terão recuado 2,0% após uma subida de 5,5%, em julho, o que já é menos encorajador para a evolução do capex futuro.

Os dados relativos à evolução do crédito também não parecem promissores para a célere recuperação dos níveis de capex. Nos 3 meses até agosto, os empréstimos para investimentos fixos aumentaram 3,5%, ajustados sazonalmente, o que compara com um crescimento de 5,1%, nos 3 meses até junho. A aceleração inicial no crédito às empresas esteve mais relacionada com as medidas especiais de combate à crise lançadas pelo Banco do Japão com vista a garantir a sobrevivência das empresas.

O aumento do crédito às empresas foi destinado às suas necessidades de sobrevivência no curto prazo
Fonte: Pantheon

Em agosto, a produção industrial aumentou 1,7% em termos mensais, versus 8,7% em julho, acima do consensus de 1,4%. Os dados parecem refletir uma diferença clara entre investimento e consumo, com este último a beneficiar mais diretamente das medidas de apoio do governo. Assim sendo, a produção de bens de capital diminuiu pela primeira vez em 3 meses, cerca de 4,5% enquanto o output de bens de consumo aumentou 2,1%. Apesar da produção industrial já ter recuperado 13% em termos acumulados desde o mínimo de maio, o nível de output permanece ainda a 90% da média do primeiro trimestre do ano, antes da declaração do estado de emergência.

Em agosto, o índice da indústria terciária aumentou 0,8% em termos mensais, versus 0,1%, em julho, aquém do consensus de 1,5%. A recuperação continuou, mas foi abalada pela segunda vaga de Covid, que obrigou à reposição de medidas de distanciamento social nalgumas cidades entre meados de julho e agosto. Já em setembro, o indicador PMI Serviços aumentou para 46,9 versus 45,0, em agosto, podendo indiciar uma retoma mais forte, após o controle do mais recente surto. De qualquer forma, tal como se pode observar no gráfico abaixo, uma recuperação total permanece fora do horizonte, já que o índice da indústria terciária se situa muito abaixo da sua tendência pré pandemia.

O “índice da indústria terciária” situa-se muito abaixo da tendência pré pandemia
Fonte: TradingEconomics.com

O indicador Producer Price Index caiu para -0,8%, em setembro, versus -0,6%, em agosto, abaixo do consensus de -0,5%, refletindo um agravamento da deflação. A queda dos preços dos produtos agrícolas agravou-se para -2,0% versus -0,3%, no mês anterior, devido a efeitos de base desfavoráveis. Por outro lado, a componente de utilities registou um acentuar da deflação pelo terceiro mês consecutivo, caindo 4,6%. Esta tendência deverá prolongar-se pelo menos até novembro já que o seu lag face à descida do preço do petróleo é de cerca de 6 meses.   Em geral, não é esperada uma inversão na deflação pelo menos até meados do próximo ano, com o abrandamento no mercado laboral a contribuir para a sua persistência.

A deflação acentuou-se no mês de setembro
Fonte: Bloomberg

Em suma, apesar da forte recuperação da despesa das famílias desde o fim do estado de emergência, existem alguns riscos para o futuro nomeadamente os que poderão advir de uma potencial deterioração dos níveis de emprego. Por seu lado, as empresas também deverão continuar relutantes em investir, dada a ausência de visibilidade quanto ao término da atual situação de pandemia. O adiar da abertura das fronteiras continua a dificultar a retoma da atividade económica. Espera-se uma recuperação trimestral do PIB, no terceiro trimestre do ano, mas tudo indica que a sua ordem de grandeza não deverá ser suficiente para contrabalançar o recuo de 7,9%, observado no segundo trimestre de 2020.

Na Sixty Degrees continuamos a monitorizar de perto a evolução da situação económica e política japonesa, não apenas no sentido de identificar oportunidades de investimento que, para já, teimam em escassear, como para perceber eventuais paralelismos com o desenvolvimento de outras economias que seguiram os mesmos passos, nomeadamente ao nível da política monetária.

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