Weekly Note
Economia brasileira
Análise dos indicadores económicos mais recentes
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No segundo trimestre do ano, a economia brasileira sofreu uma forte contração de 9,7% face ao trimestre anterior e 11,4% em termos anuais devido à pandemia Covid-19. O recuo ficou a dever-se sobretudo às quedas do consumo e do investimento, que não foram compensadas pelo aumento nas exportações líquidas. O consumo diminuiu 12,5% em base trimestral, enquanto a formação bruta de capital fixo registou uma redução de 15,4% face ao trimestre anterior. Os gastos do governo diminuíram 8,9% em termos trimestrais. As exportações líquidas foram favorecidas pela queda de 13,3% nas importações devido ao colapso da procura doméstica, enquanto as exportações cresceram 1,8%. Numa ótica paralela, o output industrial, que representa cerca de 27% da economia como um todo, diminuiu 12,3% em termos trimestrais sobretudo devido à queda da indústria mineral. O setor de serviços, responsável por 64% do PIB, registou uma queda trimestral de 9,7%. Já o setor agrícola, que representa 8% do PIB, aumentou 0,4%. Na presente weekly note pretendemos fazer um breve ponto de situação da economia brasileira, analisando os indicadores económicos mais recentes.
A contração do PIB no segundo trimestre ficou a dever-se maioritariamente às quedas no consumo e capex
Em agosto, as vendas a retalho cresceram 3,4%, face ao mês anterior (MoM), acima do consensus de 3,0% e representando o 4º ganho mensal consecutivo. As principais subidas tiveram lugar nas componentes de vestuário e bens de uso pessoal e doméstico, que cresceram 30,5% e 10,4% em termos mensais, respetivamente. A despesa das famílias tem vindo a recuperar nos últimos meses, ajudada pelos baixos níveis de taxas de juro e pelo apoio direto do governo ao rendimento dos indivíduos. Em abril, o governo criou o programa de auxílio emergencial, o qual envolve transferências diretas para as famílias, por forma a ajudá-las a enfrentar a crise. Daqui para a frente colocam-se alguns riscos, nomeadamente a incerteza sobre o apoio futuro do governo, ao programa atualmente em vigor, que terminará em dezembro, a potencial deterioração do mercado de trabalho e a própria evolução futura da pandemia.
Em agosto, as vendas a retalho apresentaram o crescimento YoY mais elevado desde março 2018
Em agosto, a produção industrial aumentou 3,2% em termos mensais, representando o 4º mês consecutivo de ganhos. Numa base anual, a produção industrial recuou 1,0% em agosto, versus uma queda de 2,9%, em julho, e cerca de 19,3%, no segundo trimestre como um todo. Em termos mensais, o crescimento foi liderado pelos bens duradouros, incluindo automóveis, cuja produção cresceu 18,5%, após um ganho de 37%, em julho. Os dados confirmaram uma vez mais a recuperação do setor industrial devido à reabertura da economia e à estabilização das condições domésticas e externas.
A produção industrial continua a recuperar
Na mesma linha, em setembro, o índice PMI Manufatura subiu para 64,9 versus 64,7, em agosto. As empresas sugeriram um volume saudável de novos pedidos, bem como uma recuperação nos níveis de exportação ajudada por um câmbio favorável. O indicador de confiança do setor industrial, FGV, também registou um avanço para 106,7 pontos, em setembro, o maior nível desde janeiro de 2013. Porém, continuam a subsistir inúmeros riscos sobre a sustentação desta recuperação, nomeadamente para os últimos meses do ano, altura em que se receia que as empresas já tenham esgotado as carteiras de encomendas acumuladas desde o início do segundo trimestre.
O relatório de criação de emprego, CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, reportou uma aceleração, em agosto, com a criação de 249 mil postos de trabalho formais, pelo 2º mês consecutivo de saldo positivo, após os 131 mil empregos criados em julho. Porém, em 2020, o saldo ainda é negativo: nos oito primeiros meses do ano, foram perdidos 849 mil empregos. A taxa de desemprego subiu para 13,8%, em julho, versus 13,3%, em junho, acima da estimativa de consensus de 13,7%. O valor atual compara com 11,8% em julho de 2019. A taxa de desemprego deverá continuar em níveis elevados durante os próximos meses em resultado do aumento expectável no número de pessoas à procura de emprego.
A taxa de desemprego voltou a aumentar no mês de julho e deverá manter-se elevada nos próximos meses
Em setembro, o índice de inflação IPCA acelerou para 0,64% versus 0,24%, em agosto, o que corresponde à maior taxa verificada desde setembro de 2003. A inflação foi impulsionada sobretudo pela alta dos preços dos alimentos, que subiram 2,3% em termos mensais. Destaque para o preço do arroz que registou uma subida mensal de 18%. Por um lado, as exportações de alimentos beneficiaram do câmbio real-dólar, com a moeda brasileira mais depreciada. Para além disso, a pandemia fez disparar a procura por parte de alguns países, como a China, que pretenderam repor as suas reservas estratégicas como forma de garantir a sua segurança alimentar.
Em setembro, a inflação foi impulsionada pela alta dos preços dos alimentos
Daqui para a frente, é expectável que a inflação se mantenha mais estável, assumindo que a pressão por parte dos preços dos alimentos e o efeito cambial assumem um caracter temporário que se desvanece no decorrer dos próximos meses. De facto, a economia brasileira continua pressionada, a componente de serviços apresenta ainda um nível de preços deprimido e a situação difícil vivida no mercado de trabalho não faz antever uma subida sustentada da inflação. Em setembro, o COPOM (Comité de Política Monetária) decidiu, de forma unânime, manter a taxa Selic em 2,00%, fazendo uma pausa no ciclo de descidas que perfez uma redução de 450bp, desde julho de 2019. O Banco do Brasil espera que a inflação iguale 2,1%, em 2020, 2,6%, em 2021, e 3,1%, em 2022.
A inflação deverá estabilizar nos próximos meses devido à fraqueza económica associada à pandemia
Em setembro, os mercados financeiros demonstraram algum nervosismo relativamente à situação orçamental do país, a prazo. De facto, o governo foi agressivo em termos de resposta fiscal à pandemia, o que evitou um colapso económico ainda maior, mas encontra-se agora numa situação difícil em termos de consolidação fiscal. A situação orçamental tem vindo a agravar-se e não se antevê como é que o governo poderá estender os seus programas de suporte cumprindo ao mesmo tempo a regra de teto de gastos. O risco político daqui advindo deverá ser cuidadosamente monitorizado.
Ao nível da pandemia, o surto tem registado um abrandamento, com a tendência de novos casos a diminuir, no entanto, a recente desaceleração ainda tem sido errática. No gráfico abaixo, pode observar-se esta evolução através da média móvel de 7 dias de novos casos.
Em agosto, o índice IBC-BR (Índice de atividade económica do Banco Central), indicador agregado de atividade frequentemente comparado com o PIB, subiu 1,1% face ao mês anterior, registando o quarto ganho mensal consecutivo. A subida de agosto ficou devida a uma melhoria das vendas a retalho e da produção industrial, bem como uma retoma ao nível dos serviços, fortemente atingidos pela crise. Com base nos dados do BGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em agosto, os volumes do setor de serviços aumentaram 3,1%, em base mensal, após subidas de 5,3% e 2,6%, em julho e junho, respetivamente. Ainda assim, o output de serviços permanece 9,8% abaixo do nível pré-Covid.
O índice IBC-BR subiu pelo quarto mês consecutivo
Em suma, a agressividade das políticas monetária e fiscal permitiu evitar o prolongamento do colapso económico e evitou o surgimento de uma crise financeira. Dito isto, a economia deverá ter dificuldade em manter o nível de momentum dos últimos meses. A situação do mercado de trabalho, aliada à necessidade de imposição de confinamentos localizados e receios de uma segunda vaga de Covid-19, deverão restringir a continuação da recuperação. Na ata de setembro do Comité de Política Monetária, salienta-se que o outlook permanece incerto, sobretudo a partir do 4º trimestre do ano devido ao fim do programa de auxílio de emergência às famílias. Na frente externa, acresce ainda um outlook desafiante para os principais parceiros comerciais – EUA, China e Argentina.