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Weekly Note

Escalar nas tensões EUA-Irão

Sixty Degrees considera pouco provável cenário de guerra

Na passada sexta-feira, dia 3 de janeiro, assistimos ao escalar da tensão entre os EUA e o Irão, após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, morto num ataque de drone efetuado pelos EUA. Esta investida foi precedida, uns dias antes, por uma invasão de manifestantes à embaixada dos EUA em Bagdade, em reação contra um bombardeamento aéreo levado a cabo pelos militares norte-americanos sobre bases do grupo Hezbollah no Iraque, onde morreram 25 pessoas.

O presidente Donald Trump, que ordenou a investida fatal sobre Soleimani, afirmou que o general estaria a planear ataques contra norte-americanos presentes no Médio Oriente. O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, prometeu uma “vingança severa” e anunciou a renúncia do Irão aos limites de enriquecimento de urânio estabelecidos no acordo nuclear de 2015.

Na semana passada, o Irão retaliou através do disparo de mísseis contra duas bases aéreas americanas no Iraque, cujas únicas vitimas foram os 176 passageiros e tripulantes do Boeing 737 da Ukraine International Airlines, acidentalmente atingido pelos iranianos.

Fonte: Stratfor

Importa primeiro perceber quem era Qasem Soleimani, o general iraniano assassinado pelos EUA. Desde 1998, Soleimani era o líder da Força Quds, a unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irão, responsável pelas operações militares secretas iranianas no Médio Oriente. A Força Quds responde diretamente ao líder supremo do Irão e o general Soleimani provavelmente seria a segunda pessoa mais poderosa no país.

Soleimani era tido como o grande mentor dos planos de aumento da esfera de influência do Irão no Médio Oriente através da execução de ataques, fornecimento de armas a aliados e desenvolvimento de redes de milícias leais ao Irão. Na Síria, acredita-se que tenha apoiado as forças leais ao presidente Bashar al Assad, armando também as milícias xiitas que lutaram ao seu lado. É conhecido também o seu apoio a outros grupos da região, como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Palestina. Após a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, Soleimani orientou ataques contra tropas e bases americanas no país. Destaca-se também a sua influência no combate ao Estado Islâmico no Iraque, onde terá ajudado a armar e a treinar as Forças de Mobilização Popular, que muitos iraquianos consideram uma forma de “colonização” iraniana.

Para perceber os recentes desenvolvimentos, é importante ter presente alguma contextualização histórica sobre as relações entre os EUA e o Irão. Até ao início da 2ª Guerra Mundial, era o Reino Unido quem detinha os maiores interesses económicos e estratégicos na região, em especial através da exploração dos campos petrolíferos do Irão, desde 1908. Em 1951, o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq, supostamente o primeiro governante eleito democraticamente no Irão, decidiu nacionalizar o setor petrolífero. Nessa altura, o Reino Unido pediu ajuda aos EUA e, em 1953, levaram a cabo a operação Ajax, um golpe de estado orquestrado pela CIA e apoiado pelo governo britânico, derrubando o primeiro ministro e restaurando a monarquia, com a ascensão do Xá Reza Pahlevi. O apoio dos EUA poderá ter tido como objetivo evitar a aproximação do Irão à União Soviética, no contexto da Guerra Fria. O golpe de estado pode ser visto como um dos primeiros pilares de hostilidade entre iranianos e norte-americanos. Em 1954, foi formado um consórcio internacional com participação britânica, americana, holandesa e francesa para a partilha dos benefícios da exploração de petróleo no Irão. Porém, em janeiro de 1979, o monarca persa viu-se obrigado a fugir do Irão, sendo incapaz de conter os protestos que, entretanto, foram surgindo no país. Em 1 de abril de 1979, foi declarada a República Islâmica do Irão, com a ascensão do Ayatollah Khomeini. Em novembro de 1979, um grupo de manifestantes manteve como reféns cidadãos norte-americanos no edifício da embaixada dos EUA. Os últimos 52 reféns só foram libertados em janeiro de 1981. Desde então, as relações entre os dois países têm sido marcadas pela imposição de sanções por parte dos EUA, sendo também de destacar o apoio norte-americano a Saddam Hussein durante os oito anos da guerra Iraque-Irão (1980).

Desde 1979, ou seja, desde a implantação da República Islâmica do Irão que as tensões com o Ocidente, nomeadamente com os EUA, têm assumido o carácter de um conflito religioso. O Irão é encarado como uma ameaça à estrutura política mundial, uma vez que considera que é a religião que deve controlar o Estado.

De referir também que mais recentemente, em 2015, foi estabelecido um acordo nuclear entre o Irão e as principais potências mundiais (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha), no qual os iranianos se comprometeram a interromper o seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções. No entanto, em maio de 2018, Donald Trump decidiu romper o acordo, impondo novas sanções, acusando o Irão de ser o principal Estado patrocinador do terrorismo.

Nesta fase, a principal incógnita é a forma como o Irão irá responder, daqui para a frente, ao atentado contra o seu general. O nosso cenário base é de que um confronto direto entre os EUA e o Irão é pouco provável. O Irão está ciente da capacidade superior dos EUA e sem o apoio da Rússia e da China não avançará com qualquer ação mais ousada. No entanto, a liderança do Irão está a atravessar uma fase desafiante, visível através das manifestações de forte descontentamento da população, sobretudo nas camadas mais jovens, devido à difícil situação económica do país. Segundo dados do FMI, a economia iraniana terá recuado 9,5% em 2019, após uma retração de 4,8% em 2018. Tudo somado, é possível que os líderes iranianos não queiram deixar transparecer uma imagem de fraqueza, mas a sua resposta mais provável, nesta fase, deverá ser baseada em atuações de menor escala, incluindo tentativas de assassinatos, raptos ou ataques a bases americanas na região.

Fonte: Statista | FMI

Por regra, os fluxos de capitais internacionais tendem a fugir de potenciais zonas de conflito. Aquando das 1ª e 2ª Guerras Mundiais assistiu-se a uma fuga de capitais da Europa para os EUA e consequentemente a uma apreciação do dólar. Já quando o Iraque invadiu o Kuwait, em 1990, o dólar registou uma depreciação pois os EUA estavam envolvidos na invasão. Neste sentido, é de registar que desde o recente escalar de tensões EUA-Irão o dólar tem-se mantido estável contra as principais moedas mundiais, não se antecipando por isso um cenário de guerra. O mesmo parece estar a ser descontado pela queda recente no preço do petróleo.

De qualquer forma, importa também questionar o potencial impacto de uma subida do preço do petróleo no crescimento económico, especificamente nos EUA. Os EUA são simultaneamente consumidores e produtores de petróleo. A sua produção equivale a 13 milhões de barris diários, enquanto o seu consumo iguala 21 milhões de barris diários. À partida, os números parecem sugerir que uma subida do preço do petróleo teria um impacto adverso no crescimento económico. No entanto, recentemente tem-se verificado precisamente o contrário devido à elevada sensibilidade da despesa de capital do setor petrolífero à variação dos preços. Tal como se pode observar no gráfico abaixo, entre meados de 2014 e o início de 2016, a descida dos preços do petróleo provocou um forte recuo no capex do setor petrolífero, que mais do que compensou o aumento do rendimento disponível dos consumidores. Da mesma forma, pode verificar-se que a recuperação dos preços do petróleo até meados de 2018 foi acompanhada por uma aceleração do crescimento económico nos EUA.

Uma subida moderada do preço do petróleo poderá não ser necessariamente lesiva para a economia norte-americana.
Fonte: Pantheon Macroeconomics

Em face dos recentes desenvolvimentos, a Sixty Degrees continuará a monitorizar cuidadosamente a sua evolução bem como o seu potencial impacto sobre os diversos mercados. Nesta fase, consideramos pouco provável um cenário de guerra, já que constituiria um risco demasiado elevado para o Irão. Por outro lado, o presidente Donald Trump não tem mostrado grande apetite para prosseguir uma política de guerras ativa. O recente desempenho do dólar e do preço do petróleo parecem descartar para já essa possibilidade. Assim sendo, e apesar de estarmos cientes dos riscos subjacentes, mantemos a nossa visão favorável ao investimento de médio prazo em ações americanas e dólar.

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