Weekly Note
Pandemia acelera crescimento do ensino online
Sixty Degrees analisa alguns dos mais recentes desenvolvimentos
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A par do e-commerce, a pandemia de Covid-19 tem vindo também a acelerar a implementação do ensino online, fruto das medidas de distanciamento social impostas pelos mais variados governos à volta do globo. Neste sentido, importa questionar se a Educação/Formação estará a entrar na sua próxima fase de evolução, onde a utilização da aprendizagem online assumirá um papel cada vez mais preponderante. De facto, dadas as numerosas vantagens associadas ao ensino digital, existem motivos para que as recentes tendências se possam prolongar e perpetuar, de alguma forma, no tempo.
Em 2020, as plataformas online de ensino norte-americanas registaram um forte crescimento. A título de exemplo, a Coursera, uma das maiores do setor, reportou um crescimento de 60%, atingindo os 70 milhões de utilizadores. Na mesma linha, a Udemy já tinha divulgado, em abril de 2020, um aumento de inscrições superior a 425%, face ao ano anterior.
Coursera – Taxas de crescimento
Da mesma forma, em 2020, o número de alunos em MOOC’s – Massive Open Online Courses – cursos superiores online a nível mundial – teve um acréscimo de cerca de 60 milhões, atingindo os 180 milhões (ex-China). Estas modalidades de cursos superiores totalmente online são oferecidas pela Coursera e pela EdX, que, através de parcerias com universidades de renome (ex: University of Michigan, Penn, University of London), permitem a obtenção de diplomas equivalentes aos obtidos no ensino tradicional. No final de 2020, o portal Class Central, que agrega dados sobre disponibilidade de cursos online, divulgou a estimativa de lançamento, a breve trecho, de mais de 16 mil MOOC’s, por parte de 950 universidades a nível mundial.
Número de alunos em MOOC’s, a nível mundial (ex-China)
Para além disto, os confinamentos do último ano fizeram disparar o interesse pela modalidade das explicações online, em função da impossibilidade em recorrer ao apoio junto das escolas físicas. Esta poderá ser uma tendência com caráter mais permanente no futuro. As empresas norte-americanas especializadas neste segmento, como a Chegg ou a Course Hero, deverão ser das maiores beneficiárias desta situação. No caso da Chegg, no terceiro trimestre de 2020, os seus subscritores aumentaram quase 70%, face ao ano anterior.
Segundo o Global Online Education Market, publicado pela Research and Markets, o mercado de ensino online, a nível mundial, deverá crescer a uma CAGR de 9,2%, entre 2020-2025, passando de um valor de 188 mil milhões de dólares, em 2019, para quase 320 mil milhões de dólares, em 2025. A crescente adoção de soluções baseadas na cloud, a par dos elevados investimentos em segurança e fiabilidade das plataformas de educação online, têm facilitado a sua adoção ao nível dos utilizadores finais. Os grandes avanços em termos de inteligência artificial e o rápido crescimento da Internet of Things, serão dois dos grandes catalizadores de melhoria da experiência do utilizador destas plataformas.
De salientar que o ensino online parece apresentar um conjunto de vantagens que deverão favorecer o seu crescimento futuro. À cabeça, destaque para a forte redução de custos tanto ao nível das propinas dos alunos como dos gastos das próprias instituições educativas. Logo em seguida, destaque para a maior conveniência que resulta de se poder assistir às aulas em qualquer local e em qualquer altura. Segundo um relatório recente da Strada – Center for Education Consumer Insights – a principal barreira à aprendizagem prende-se precisamente com tempo e logística. Outra vantagem a assinalar, decorre da possibilidade de cada pessoa poder aprender ao seu próprio ritmo, por oposição ao formato one size fits all do ensino tradicional. O ensino online permite igualmente o acesso a conteúdos e professores de universidades de topo que, de outra forma, poderiam não estar disponíveis devido às restrições geográficas. A título de exemplo, na Coursera, os estudantes podem aceder a disciplinas lecionadas por professores de universidades de topo como Yale, Oxford e Harvard, para além de que muitas disciplinas são lecionadas por experts e profissionais com experiência real. O ensino online pode oferecer ainda um maior direcionamento para competências específicas, ao invés dos cursos superiores tradicionais mais genéricos.
Impacto da frequência de cursos online
Apesar das inúmeras vantagens, não podemos deixar de apontar algumas desvantagens associadas ao ensino online. De facto, parece existir evidência de que a aprendizagem online é menos eficaz em estudantes mais novos, que precisam de maior supervisão. De acordo com dados da organização NWEA – Northwest Evaluation Association, os estudantes mais novos parecem ficar menos preparados quando assistem às aulas online. Assim sendo, para este segmento será mais provável que se procure desenvolver soluções em formato app, para matérias muito específicas e cuja curta duração permitirá captar a total atenção das camadas mais jovens.
Outro potencial desafio, está relacionado com a necessidade de acesso a tecnologia, o que poderá ser mais difícil para famílias de menor rendimento, sem acesso a computador, tablet ou Wi-Fi. Por outro lado, será difícil, para a modalidade de ensino online replicar a interação entre colegas e com professores, por vezes muito valiosa. As disciplinas práticas, experiências laboratoriais, são outros dos entraves à dinamização da educação online. Por fim, uma das principais desvantagens prende-se precisamente com a ausência de socialização, que é chave para o desenvolvimento intelectual e psicológico dos estudantes e da sociedade como um todo.
Da mesma forma que a pandemia acelerou o uso do ensino online, também parece ter reduzido o interesse pelo ensino superior tradicional. Em geral, nesta fase, parece existir algum descontentamento, por parte dos estudantes, quanto aos benefícios que se poderão retirar dos cursos superiores existentes. De acordo com dados da Strada referentes aos EUA, em 2020, as inscrições nos politécnicos diminuíram 9,4% e cerca de 2,0% nas universidades. Também segundo a Strada, menos de 1 em cada 5 estudantes do ensino superior americano consideram que a sua formação vai compensar o custo incorrido. Apenas um terço dos estudantes considera que a faculdade é “excelente” ou “muito boa” na articulação com o mercado de trabalho profissional. A complicar estas contas, de acordo com o Federal Bank of New York (2020), mais de 40% dos estudantes recentemente graduados não dispõem de emprego.
Articulação Universidade e mercado de trabalho
Ao nível das empresas, o ensino online poderá contribuir eficazmente para colmatar as necessidades de formação especificas dos seus colaboradores. Cerca de 80% dos CEO’s inquiridos, num estudo recentemente divulgado pela PwC, consideram que a falta de trabalhadores qualificados está a prejudicar a capacidade de crescimento das suas empresas. No momento atual, a evolução tecnológica é de tal forma acelerada que exige, às empresas e respetivos colaboradores, um consumo de formação quase contínuo. A maioria das plataformas de ensino online americanas (tipo Coursera, Udemy, ou Udecity), disponibilizam formação para colaboradores de empresas. Será expectável um aumento das parcerias entre empresas, plataformas de ensino online e universidades com o intuito de melhorar a qualificação dos trabalhadores. Em 2018, a Google lançou não só o programa Grow with Google mas também, em junção com a Coursera, passou a oferecer o Google IT Support Certificate para os novos colaboradores na área de IT.
O aumento do desemprego gerado pela pandemia poderá numa certa extensão revelar-se permanente, o que certamente levará à necessidade de requalificação dos trabalhadores que perderam o seu emprego. Segundo um inquérito da Strada, cerca de um terço dos americanos reconhecem a necessidade de frequentar novas e diferentes formações para voltarem a obter emprego. Esta necessidade poderá também contribuir para o crescimento da adesão ao ensino online.
Recentemente, a Raymond James levou a cabo um inquérito, nos EUA, a 500 indivíduos com idades compreendidas entre 18 e 28 anos por forma a avaliar o seu interesse e/ou utilização do ensino online. Apresentam-se, de seguida, os principais resultados do inquérito, que parecem apontar para uma elevada relevância da aprendizagem online.
Cerca de 36% dos inquiridos já utilizam plataformas de ensino online ao nível da aprendizagem curricular ou para melhoria de qualificações profissionais. Aproximadamente 30% da amostra mostra-se muito interessada em vir a utilizar ensino online e cerca de 26% algo interessados na sua utilização.
Aprendizagem online
Por outro lado, cerca de 88% dos inquiridos esperam vir a usar o ensino online para melhorar as suas qualificações profissionais. Em termos das vantagens apontadas, cerca de 62% admitem que a sua escolha de ensino online é devida à maior conveniência de tempo, 53% ao facto de poderem aprender a partir de casa e 43% devido aos menores preços.
Razões e vantagens do ensino online
Cerca de 56% dos inquiridos afirmam estar a usar o ensino online para melhorar as suas qualificações profissionais e 53% para hobbies e interesses pessoais. Aproximadamente 54% dos estudantes de faculdade preferem um regime misto de ensino, que envolva ambas as modalidades, online e tradicional.
Razões e vantagens do ensino online (2)
Em suma, a pandemia veio acelerar fortemente a dinamização do ensino online em função dos confinamentos impostos e das restrições de distanciamento social implementadas. Apesar do impacto de longo prazo ser ainda muito incerto e difícil de quantificar, e de considerarmos que existe um claro valor na aprendizagem in-loco, não podemos deixar de antever que, dadas as vantagens do ensino online, todos os grupos com interesses nesta área (desde estudantes, a educadores, empresas e governos) continuarão a procurar alternativas/complementos ao ensino tradicional. Nesse sentido, a Sixty Degrees estará atenta a eventuais oportunidades de investimento que possam decorrer desta nova tendência.