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Weekly Note

A pandemia e a economia espanhola

Outlook desafiante no médio e longo prazo

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Espanha tem sido um dos países mais atingidos pela pandemia, quer em termos sanitários quer em termos de prejuízo económico. Em março do ano passado, no pico da primeira vaga de Covid-19, a mortalidade em Espanha era muito elevada quando comparada com os restantes países europeus. Deste modo, o confinamento imposto pelo governo espanhol, em meados de março de 2020, foi um dos mais estritos na Europa. Em resultado, no primeiro semestre de 2020, o PIB espanhol registou a maior queda da Zona Euro. Esta underperformance também não será alheia ao facto da economia espanhola ter uma elevada exposição aos setores mais vulneráveis às medidas de distanciamento social, nomeadamente ao setor do turismo.

No primeiro semestre de 2020, o PIB espanhol registou a maior contração da Zona Euro

Fonte: Eurostat

O nível de emprego também registou um forte recuo, tendo caído 8,4%, no primeiro semestre de 2020, comparável com a redução média de apenas 3,2% da totalidade da Zona Euro. A maioria das perdas de emprego ocorreram nos setores de alojamento e da restauração.

No total, a queda do PIB, em 2020 face a 2019, foi de 11,0%, uma contração sem precedente, que traduz a gravidade do impacto da pandemia sobre a economia espanhola. Não deixa de ser alarmante que alguns países com maior exposição a serviços e turismo, menores gastos em saúde e maiores dificuldades à partida para esta pandemia, tenham conseguido fazer bem melhor do que Espanha.

Ainda assim, no 4T20, a economia conseguiu recuperar modestamente, 0,4% em cadeia, apesar da introdução de restrições para controlar a segunda vaga de Covid-19. No entanto, enquanto a recuperação do 3T foi caracterizada por uma retoma generalizada das várias componentes, no 4T20, o consumo privado e gastos públicos aumentaram 2,5% e 4,0%, em cadeia, respetivamente. Porém, o investimento e as exportações líquidas registaram quedas de 3,1% e 1,4%, em base trimestral, respetivamente.

Em janeiro deste ano, assistimos ao início da terceira vaga de covid-19, agravada pelo surgimento da nova e aparentemente mais contagiosa “variante do Reino Unido”, que resultou numa subida substancial do número de infeções. Em reação, as autoridades espanholas voltaram a repor as restrições à mobilidade e o distanciamento social, em tudo semelhantes ao que se verificava até novembro. Em fevereiro, já se sentiram algumas melhorias, tendo a incidência acumulada a 14 dias ficado, pela primeira vez em dois meses, abaixo do nível de risco de 250 casos por 100 mil habitantes.

No primeiro semestre de 2020, o PIB espanhol registou a maior contração da Zona Euro

Fonte: OurWorldinData

Em geral, os primeiros indicadores disponíveis, para 2021, fazem-nos acreditar que a atividade económica permanecerá inalterada, no 1T21, face ao trimestre anterior.

Tal como se pode observar no gráfico abaixo, a mobilidade permanece inferior aos níveis registados no 4T20, apesar de uma certa melhoria neste mês. Em fevereiro, o PMI Serviços permaneceu em níveis de contração (43,1 pontos) enquanto o PMI Manufatura recuperou para valores correspondentes a expansão (52,9 versus 49,3 em janeiro). Por seu lado, desde o final de 2020, as despesas de consumo realizadas com cartões permaneceram pressionadas tendo, em fevereiro, anulado a recuperação que haviam registado até dezembro.

Mobilidade da população (locais de trabalho)

Fonte: Google Mobility Report

Nos próximos trimestres, o PIB deverá recuperar com os avanços do plano de vacinação que deverão permitir ao governo espanhol, à semelhança dos restantes parceiros da Zona Euro, promover a redução das restrições à atividade, entre maio e junho. Para já, o programa de vacinação está a avançar muito lentamente, tal como na restante União Europeia (UE). As restrições ao nível do abastecimento de vacinas são visíveis, com Madrid a ter de abrandar o ritmo da sua administração de forma a assegurar que a toma das segundas doses é feita dentro do prazo definido. Até 11 de março, tinham sido administradas cerca de 5,4 milhões de doses, o que se traduz num ritmo bastante inferior ao do Reino Unido (RU) e dos EUA. O governo espanhol, à semelhança dos restantes estados-membros da UE, tem como objetivo vacinar 70% da população adulta até ao final do Verão.

O ritmo de vacinação na Europa está muito aquém do registado no RU e EUA

Fonte: OurWorldinData

Para o ano 2021 como um todo, a Comissão Europeia estima um crescimento do PIB espanhol de 5,6%, o que compara com 6,8% do Banco de Espanha e 5,6% do consensus da Bloomberg. Bruxelas tem vindo a reduzir as previsões de crescimento para Espanha, atrasando o início da recuperação para o 2º semestre deste ano e deixando antever que os níveis do PIB de 2019 só voltarão em 2023. De qualquer forma, este acréscimo de Produto (PIB), em 2021, será resultado do aumento dos Gastos Públicos, já que a economia produtiva só deverá estar “curada” lá para 2024. No entanto, as estimativas contêm riscos elevados, nomeadamente a possibilidade de surgimento de novos problemas ao nível da logística e oferta de vacinas, novas variantes do vírus e/ou as autoridades adiarem por mais tempo do que o esperado o levantamento das restrições de viagens, com impacto na época de turismo de 2021.

De facto, a economia espanhola foi uma das mais afetadas pela pandemia precisamente devido à sua elevada exposição ao turismo. Este é um setor chave da atividade económica, que representa no seu todo cerca de 14% do PIB, sendo o segmento internacional responsável por metade deste valor. De referir a elevada sazonalidade do setor, em que o período de junho a setembro representa 50% das receitas de turismo anuais em Espanha. Assim sendo, um potencial adiamento no levantamento das restrições às viagens poderá comprometer o Verão deste ano, bem como o ritmo da recuperação económica de 2021.

Em 2020, o superavit da balança corrente caiu para 8,0 mil milhões de euros, equivalente a 0,7% do PIB, o que compara com 2,1% do PIB em 2019. A principal razão para esta deterioração foi a elevada diminuição do superavit da balança de serviços devido à quebra nas exportações do turismo, superior a 80%. Esta redução foi apenas parcialmente compensada pela melhoria do défice da balança de bens embora em boa parte devido à quebra das importações.

Em janeiro de 2021, o número de turistas estrangeiros reduziu-se em 90% face ao ano anterior, para 430 mil, mas o mercado doméstico (30% do total) está a mostrar alguma resiliência.

Caso as restrições às viagens sejam levantadas durante os meses de maio/junho, estima-se que as exportações de turismo consigam recuperar para o valor pré-Covid (2019) no decorrer deste Verão (vs 20% no final de 2020).

No que se refere ao mercado laboral, após vários meses de alguma resiliência, o número de desempregados voltou a aumentar em cerca de 20 mil, em fevereiro, superando as 4 milhões de pessoas. Também neste mês, o número de trabalhadores em layoff foi revisto em alta para cerca de 900 mil. No 4T20, a taxa de desemprego ficou em 16,1%, o que compara com 14,1%, em 2019, registando um aumento significativo, mas ainda assim travado, em grande parte, pelo programa de layoff. Os próximos meses deverão continuar a ser desafiantes, do ponto de vista do mercado laboral, tendo o BCE alertado para o facto de quase 15% dos trabalhadores espanhóis trabalharem em empresas com situação muito vulnerável, que possivelmente terão necessidade de reduzir pessoal. De qualquer forma, até ao mês de maio, uma potencial deterioração da situação empresarial e laboral terá efeitos mais contidos devido à existência do programa de layoffs.

Postos de trabalho em risco

Fonte: BCE

No que respeita ao segmento imobiliário, contrariamente à crise de 2009, não estamos a assistir a uma travagem abrupta até porque não existe evidência de que os preços das casas estivessem sobreavaliados, no final de 2019. Tal como se pode observar no gráfico abaixo, no final de 2020, a construção residencial representava uma proporção do PIB semelhante à das restantes economias da Zona Euro.

Construção residencial (% do PIB)

Fonte: Eurostat

A atual contração do setor residencial deverá ter um caráter meramente temporário. Em 2020, foram vendidas mais de 415 mil casas, o que representou uma queda de 17,7%, face a 2019. No entanto, as vendas de novas casas começaram recentemente a recuperar, tendo aumentado 12,6% no mês de dezembro. A descida dos preços das casas, ao nível das avaliações de imóveis, tem sido limitada, registando uma perda de 1,8%, em base anual, no 4T20.

Até agora, a descida dos preços das casas foi reduzida

Fonte: Eurostat

Os números de encerramentos e insolvências de empresas em Espanha são preocupantes. Em 2020, o número de encerramentos foi superior a 101 mil empresas, cerca de 6,8% do total. No ano passado, a constituição de empresas diminuiu 15,8%, face ao período homólogo. Olhando apenas para as falências, registaram-se mais de 20 mil novos processos de insolvência, menos 13,5% do que em 2019. Este desempenho fica claramente aquém do registado em Portugal, Grécia ou Itália, todas economias que também apresentam uma elevada exposição ao setor do turismo. A Confederacion Espanola de la Pequena y Mediana Empresa admite a possibilidade de encerramento de mais 300.000 empresas, e o Banco de Espanha alerta para o facto de 40% das empresas espanholas estarem em situação financeira complicada, com 25% à beira da falência.

Apesar de Espanha ser um dos países onde a crise pandémica tem provocado maiores danos à economia, as suas respostas orçamentais não têm sido significativas. Em 2020, o défice público situou-se em 11% do PIB e a dívida pública alcançou 117,1% do PIB, um aumento de 21,6pp face a 2019. No entanto, segundo dados do BCE a dimensão das medidas de resposta fiscal, em 2020, foi muito inferior à dos restantes países da Zona Euro.

Resposta fiscal à pandemia (2020, %PIB)

Uma das explicações possíveis poderá estar relacionada com as divisões existentes no meio político espanhol, sendo muito difícil ao governo minoritário obter o apoio necessário para as suas propostas. Por outro lado, tendo Espanha um elevado rácio de dívida pública e tendo passado recentemente por uma crise de acesso ao financiamento de mercado, terá menor espaço de manobra para deixar derrapar as suas contas públicas.

De qualquer forma, a maior relutância do governo em apoiar diretamente a economia, tendo optado por estímulos sob a forma de empréstimos, adiamento no pagamento de impostos e moratórias de crédito temporárias, apenas adia o problema sem o resolver.

No âmbito do Fundo de Recuperação da UE, nos próximos anos, Espanha irá receber subvenções em valor equivalente a 5% do PIB e igual montante na forma de empréstimos. O orçamento para este ano prevê a execução de projetos relacionados com o NextGenerationEU no valor de 27 mil milhões de euros (2,2% do PIB), algo que ainda não foi aprovado por Bruxelas.

Os fundos recebidos deveriam ser aproveitados para alterar a política de apoio ao tecido empresarial, abrindo espaço para medidas de atração de investimento e preservação do tecido produtivo. De facto, o governo deveria prescindir dos gastos de despesa corrente desnecessários, algo que de todo não fez até agora. Em 2020, a despesa corrente voltou a aumentar, ao invés de ser contida por forma a compensar o aumento dos gastos com os estabilizadores automáticos, nomeadamente com os apoios ao desemprego. O espaço de manobra fiscal concedido pelo Fundo de Recuperação da UE deveria ser utilizado para a concessão de linhas de financiamento não recursivas a pequenas e médias empresas, a par da eliminação de alguns impostos.

A pandemia veio pôr a nu muitos dos problemas estruturais da economia espanhola que deverão impedir uma trajetória de crescimento mais robusto, no médio e longo prazo.

Em primeiro lugar, a proporção de trabalhadores com contratos temporários é mais elevada em Espanha do que no resto da Zona Euro. Quando os apoios do governo ao mercado laboral cessarem poderá ser mais fácil para as empresas em dificuldade dispensarem estes trabalhadores, com impacto negativo no nível de emprego e consequentemente no consumo. Tendo em conta que estes contratos temporários raramente evoluem para permanentes, o incentivo para as empresas melhorarem as qualificações dos trabalhadores é baixo o que se traduz numa mão-de-obra relativamente pouco qualificada. Segundo dados do Eurostat, em 2019, a probabilidade de um temporário evoluir para permanente era inferior a 10%. Em Espanha, a qualificação dos trabalhadores é inferior à média da Zona Euro, com cerca de um terço dos estudantes a terminar a escolaridade aos 16 anos. Um nível de qualificação inferior deverá traduzir-se a prazo num crescimento mais lento da produtividade e, como tal, do crescimento económico potencial.

Em Espanha, a proporção de trabalhadores com contratos temporários é mais elevada

Fonte: Eurostat

Em segundo lugar, as divisões no seio político espanhol são um impedimento à prossecução das reformas necessárias. Em 2020, ficou evidente a dificuldade crescente da coligação em obter o suporte necessário para as suas políticas. De recordar que o resultado inconclusivo das eleições, de novembro de 2019, obrigou à necessidade de constituição de uma aliança entre os socialistas centro-esquerda, liderados pelo PM Pedro Sanchez, e o partido de esquerda Podemos. Ainda assim, a coligação não dispõe de maioria no Parlamento e ainda recentemente foram divulgadas algumas tensões no seu seio. A pandemia veio evidenciar e exacerbar as divergências entre os vários partidos políticos, nomeadamente no âmbito da necessidade de imposição de restrições à mobilidade. De referir também que muitas medidas de controle do vírus são decididas a nível regional, o que por vezes acaba por resultar numa abordagem pouco coerente à pandemia. Numa ótica a prazo, as divisões políticas em Espanha deverão ser um entrave à execução das reformas necessárias para melhorar o crescimento económico.

Equilíbrio de forças no Parlamento

Fonte: Eurostat

Por último e como já referido acima, a relutância do governo em avançar com uma resposta fiscal de dimensão significativa também deverá prejudicar o crescimento económico a prazo. Nos próximos anos, famílias e empresas sobrecarregadas de dívida terão mais relutância em consumir ou investir, reduzindo o potencial ritmo de crescimento da economia espanhola.

Em suma, mesmo que a curto prazo a economia espanhola recupere mais rapidamente, em resultado do levantamento das restrições nos setores mais afetados, a médio e longo prazo, o seu ritmo de crescimento poderá ser inferior à média da Zona Euro em função das fragilidades estruturais acima mencionadas. Aliás, alguns analistas admitem que, no período 2023-2025, o ritmo de crescimento económico poderá abrandar para cerca de 1%. No curto prazo, não ajuda muito o facto do governo espanhol ser aquele que menos apoios tem dado ao tecido empresarial e ser o único da UE, no último ano, a subir impostos sobre as empresas e os trabalhadores independentes. Por outro lado, a experiência passada com o Plano de crescimento e Emprego, de 2009, e com o Plano Juncker, não deixa antever grandes resultados da utilização da “bazuca europeia”, ao nível do impacto real sobre o crescimento potencial e o emprego.

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