Weekly Note
Economia Norte-Americana – update
Breve resumo dos principais indicadores económicos recentes
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A economia norte-americana continua a registar uma forte recuperação, tendo avançado 6,4% no primeiro trimestre do ano (comparando com os últimos três meses do ano transato). O segundo trimestre deverá registar um crescimento na ordem dos 9%-9,5%, devido sobretudo ao impacto dos pagamentos diretos de ajudas às famílias no âmbito dos pacotes de estímulos lançados. No terceiro trimestre este último impacto já não será sentido, mas a reabertura da economia deverá permitir um aumento mais acentuado no emprego, bem como o gasto do excesso de poupança acumulado pelas famílias nos últimos 18 meses. Para o ano 2021, como um todo, as estimativas do FMI e da Fed apontam para um crescimento de 7,0%. A confirmarem-se as estimativas, o PIB dos EUA poderá ficar acima das previsões existentes pré-pandemia no decurso do primeiro trimestre de 2022.
Caso cresça 7% em 2021, o PIB poderá ficar acima das previsões existentes antes da pandemia durante o 1T22
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No que se refere à pandemia, importa salientar que o número de infeções voltou a aumentar devido à propagação da variante Delta. Até agora, o crescimento é moderado e o número de infeções a nível nacional permanece bastante reduzido, cerca de 96% abaixo do máximo de janeiro. No entanto, a expectativa é de que continue a aumentar sobretudo nos Estados com menor taxa de vacinação, mas que registam um número de fatalidades inferior às anteriores vagas.
Recentemente, o número de infeções tem aumentado devido à propagação da variante Delta
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Segundo diversos especialistas, o controle da variante Delta deverá exigir que cerca de 85% da população esteja imune à doença. Com base em dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), poder-se-á inferir que o atual grau de imunidade nos EUA andará próximo dos 72%, em resultado de um mix entre vacinação e anterior infeção. No Reino Unido, onde se estima uma imunidade próxima de 87%, as infeções per capita situam-se atualmente cerca de 7 vezes acima dos EUA. No entanto, a maioria dos casos abrange a população mais jovem, tratando-se por isso de infeções muito menos graves.
Em geral, nos EUA a relação entre o número de infeções e de hospitalizações abrandou devido à vacinação da população mais vulnerável, pelo que deverá ser pouco provável a reintrodução de novos períodos de confinamento. O avanço da variante Delta poderá obrigar alguns Estados a voltar a impor algumas restrições, em função do grau de pressão sobre os respetivos sistemas hospitalares. Ainda que os Estados com menor número de vacinados continuem a avançar com os programas de vacinação, o lag temporal entre a primeira e segunda doses, bem como entre a segunda dose e o alcance da proteção total, farão com que ainda exista alguma vulnerabilidade nos próximos meses.
Percentagem da população com duas doses da vacina por Estado
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Em junho, as vendas a retalho registaram um crescimento mensal de 0,6%
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Para o terceiro trimestre estima-se que o consumo possa continuar com uma tendência positiva, em resultado da aceleração no nível de emprego, do aumento gradual da oferta de trabalho, devido à reabertura das escolas, e do fim dos programas de auxílio a desempregados.
De salientar que o consumo é a principal componente do PIB, representando cerca de 68% da economia norte-americana. No ano passado, a queda na despesa do consumidor teve como reverso a subida record de 5,5 pontos percentuais na taxa de poupança. O fecho da economia durante grande parte do ano fez com que as pessoas tivessem menos hipóteses de gastar, tendo por isso poupado uma parte substancial das ajudas recebidas no âmbito do programa de estímulos (CARES Act).
Em 2020, a taxa de poupança registou uma subida record de 5 pontos percentuais devido ao fecho da economia durante grande parte do ano
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O stock de poupança acumulado durante a pandemia foi de tal forma elevado que a velocidade e o grau com que será gasto fará toda a diferença naquilo que será a trajetória da despesa do consumidor nos próximos anos. Entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, as famílias pouparam 2,5 biliões de dólares acima do que seria expectável caso não tivesse havido Covid. Na verdade, é difícil prever qual será o comportamento futuro das famílias, uma vez que a situação atual não tem precedente. Neste momento, as pessoas detêm depósitos equivalentes a 79% do PIB, o maior nível de sempre, sendo que o valor dos seus restantes ativos (habitação, fundos de pensões e carteiras de investimento) também aumentou.
Se as famílias optarem por gastar, nos próximos 2 anos, apenas 15% das poupanças acumuladas, o acréscimo no PIB será de 370 mil milhões de dólares, ou seja, 0,8% do PIB anual, um valor material tendo em conta que a tendência de crescimento económico pré-Covid se situava em torno de 2,5%.
Neste momento, as famílias detêm depósitos equivalentes a 79% do PIB, o maior nível de sempre
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O investimento empresarial em bens de capital continua a recuperar fortemente
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O output da manufatura continua a registar crescimento, embora mais moderado
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A componente da carteira de encomendas ou ordens de compra que não conseguem ser imediatamente satisfeitas diminuiu 6,1 pontos e os timings de entrega dos fornecedores também registaram uma descida. Esta evolução parece sugerir uma acalmia nas pressões sob as cadeias de oferta que, a confirmar-se, poderia traduzir-se numa futura redução gradual das pressões sobre os preços pagos/inflação no produtor, os quais atingiram em junho um máximo de 42 anos.
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Em junho, o ISM da atividade de Serviços diminuiu para 60,7 pontos versus 64,0 em maio, devido ao desvanecer do impulso causado pelos últimos pagamentos de ajudas diretas às famílias. No entanto, não parece haver sinais para preocupação neste campo, uma vez que o valor do índice permanece significativamente acima dos níveis anteriores aos dos pagamentos de estímulos, em resultado da reabertura da economia. O facto das famílias deterem um montante de cash, sem precedente, decerto deverá continuar a sustentar a evolução da atividade de serviços. De salientar que a componente de emprego se encontra abaixo de 50,0, refletindo a escassez do fator trabalho face ao aumento da procura nestes setores.
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Em junho, foram criados 850 mil novos empregos, o maior aumento mensal dos últimos 10 meses, superando a estimativa de consensus de 706 mil. No entanto, a melhoria face ao número de 583 mil registado em maio deveu-se ao aumento do emprego no setor público, já que o crescimento dos postos de trabalho no setor privado não foi significativamente superior ao do mês anterior. O emprego continua assim 8,8 milhões abaixo do que seria de esperar caso a pandemia não tivesse ocorrido.
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De facto, apesar da recuperação económica em curso, o crescimento do emprego tem sido mais lento do que o esperado devido à menor oferta de trabalho, apesar da elevada procura do lado das empresas. Em junho, a força laboral aumentou 151 mil pessoas, ficando ainda assim 5,5 milhões de trabalhadores abaixo do valor implícito na tendência anterior à pandemia. A taxa de participação laboral recuperou apenas metade da perda provocada pela pandemia, sendo que os números são fracos sobretudo ao nível das pessoas em idade parental, especialmente mulheres e maiores de 55 anos. Assim sendo, a oferta de trabalho poderá estar a ser restringida pelas necessidades de cuidado de crianças e ensino online, bem como pelo impacto dos programas de auxílio ao desemprego financiados pelo governo federal.
A força laboral permanece 5,5 milhões abaixo do valor implícito na tendência anterior à pandemia
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Nos próximos meses, os vários Estados deverão terminar os auxílios ao desemprego, sendo que todos o terão de fazer até 6 de setembro. Por outro lado, no Outono, as escolas e as creches deverão reabrir em pleno, podendo aliviar a pressão sobre os pais. Assim sendo, será expectável um regresso de milhões de pessoas ao mercado de trabalho durante o Outono, embora ainda não seja certo se tal regresso será suficiente para satisfazer a procura laboral existente.
A inflação tem sido um tema em destaque, já que poderá constituir uma ameaça real, em função do período de forte crescimento económico que atravessamos, ainda mais com a possibilidade de ser alavancado pelo gasto das elevadas poupanças acumuladas.
Em junho, a inflação Core nos EUA atingiu 4,5%, o valor mais elevado desde agosto de 1991. No entanto, é preciso ressalvar a forte influência da pandemia nalgumas categorias específicas tais como automóveis, tarifas aéreas, diárias de hotel, seguros e alugueres automóveis. A taxa de inflação Core, expurgada dos itens mais sensíveis ao Covid, situou-se em 2,1% em junho.
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A subida mensal dos preços na categoria de automóveis foi de 10,5%, representando cerca de metade do aumento da inflação Core. Tendo em conta a escassez de automóveis novos, as empresas de aluguer automóvel tiveram de recorrer ao mercado de usados fazendo disparar os preços. Uma vez que as frotas de aluguer já foram constituídas para fazer face ao Verão será expectável que nos próximos meses os preços dos automóveis possam corrigir. Simultaneamente, as tarifas aéreas e as diárias de hotel também deverão estabilizar, o que poderá implicar subidas mensais mais moderadas na inflação Core nos próximos meses.
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Claro que a continuação da subida da inflação Core poderá despoletar um aumento nas expectativas de inflação e consequentemente a exigência de maiores salários. Até agora, o aumento das expectativas não é assinalável, mas deverá ser monitorizado.
Em julho, a Fed manteve a postura até agora adotada, defendendo que a subida de inflação deverá ser temporária, uma vez que é sobretudo assente em disrupções nas cadeias de produção e concentrada nos aumentos de preço nos serviços mais afetados pela pandemia. A Fed salientou que a taxa de participação laboral permanece baixa e que o mercado de trabalho provavelmente ajustará no Outono, após a reabertura das escolas e creches e a retirada dos auxílios ao desemprego. De facto, é razoável admitir que tais alterações incentivem o regresso das pessoas ao mercado laboral, no entanto, não é certo que seja numa extensão suficiente para acomodar o aumento da procura de trabalho. A atual situação no mercado laboral não tem precedente e como tal a incerteza futura é elevada.
De facto, no pós-pandemia o risco de um aumento sustentado da inflação para além da zona de conforto da Fed não pode ser descartado, já que a evolução futura da oferta de trabalho é incerta e foi injetada uma enorme quantidade de liquidez na economia. Se no Outono os dados do mercado laboral demonstrarem que a oferta de trabalho não está a recuperar o suficiente para conter o crescimento salarial, a Fed poderá ser forçada a admitir a necessidade de antecipar as subidas de taxas de juro. Para já, a Fed iniciou o debate sobre a eventual redução do ritmo do programa de compra de ativos, mas não antecipa subidas de taxas de juro antes de 2023.
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Em suma, o PIB norte-americano continua a registar uma forte recuperação assente no efeito dos programas de estímulos e na reabertura da economia. As perspetivas futuras são animadoras já que as famílias acumularam um nível extremamente elevado de poupança no último ano, o qual deverá ser gasto nalguma extensão nos próximos anos. O investimento empresarial continua a recuperar fortemente e a produção manufatureira continua a crescer. Porém, a inflação é uma ameaça latente, tendo em conta a enorme injeção de liquidez na economia e a incerteza acerca da evolução futura da oferta de trabalho, fatores que poderão forçar a Fed a rever o curso da política monetária.
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