Weekly Note
FMI – World Economic Outlook (Update)
Principais previsões
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No passado mês de julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou o World Economic Outlook Update (WEO), no qual atualiza as previsões de crescimento económico para 2021 e 2022.
A instituição sublinha o acentuar das divergências de crescimento entre as várias economias, face ao quadro previsto no anterior WEO de abril de 2021. O acesso à vacinação dividiu a recuperação global em dois blocos: (i) países que podem esperar a aceleração da “normalização” da sua economia até ao final de 2021 (grupo que engloba praticamente a totalidade das economias avançadas); (ii) as regiões que ainda verificam o ressurgimento do vírus e o aumento no número de mortes pela Covid-19.
Em julho, cerca de 40% da população das economias avançadas já se encontrava totalmente vacinada, contra cerca de metade dessa proporção nas economias emergentes e uma percentagem mínima nos países de baixo rendimento. De salientar que a Africa Subsariana deparava-se novamente com uma terceira vaga viral, algumas regiões da América Latina continuavam a registar elevada mortalidade e subsistiam receios acerca da situação vivida nalgumas zonas no Sul e Sudeste da Ásia.
Evolução da vacinação
A contribuir também para a maior divergência nas dinâmicas de crescimento entre os vários países surge o impacto da política fiscal, o qual tem sido considerável nos EUA, bem como noutras economias onde se inclui França, Alemanha, Itália, Coreia do Sul e Reino Unido. Pelo contrário, vários mercados emergentes e economias em desenvolvimento encontram-se sem espaço de manobra fiscal, tentando equilibrar as suas contas públicas. Países como o Brasil, a Hungria, o México, a Rússia e a Turquia também iniciaram uma normalização de política monetária em resposta às pressões inflacionistas.
No entanto, o FMI sublinha que mesmo nas regiões onde a pandemia parece estar sob controle, a recuperação poderá não estar totalmente assegurada enquanto o vírus se puder propagar noutros locais, criando novas mutações potenciais. De salientar que o Reino Unido teve de adiar a sua reabertura económica devido à propagação da variante Delta, apesar da vacinação poder ter sido a causa da redução nas hospitalizações. A recuperação económica sofreu um forte revés nos países que enfrentaram novas vagas virais. Em maio, a província de Guangdong, na China, viu-se obrigada a impor novas restrições devido ao surgimento de um surto, após um período prolongado de baixos níveis de infeções. De forma semelhante, a Austrália voltou a impor restrições mais gravosas no decorrer do passado mês de junho.
Neste contexto, o FMI estima que a economia mundial deverá crescer 6,0% em 2021 e 4,9% em 2022. A previsão para 2021 manteve-se inalterada face à anterior (WEO abril 2021), no entanto, foram feitas revisões em alta para as economias avançadas e em baixa para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento, as quais se anularam entre si. Já para 2022, a estimativa de crescimento global foi revista em alta de 0,5pp, devido sobretudo ao upgrade na previsão para as economias avançadas, resultante em grande parte da melhoria de outlook para os EUA que têm beneficiado com os diversos programas de estímulos fiscais implementados.
No que se refere às economias avançadas, as previsões de crescimento económico para 2021 e 2022 foram revistas em alta devido ao progresso na vacinação e ao impacto dos estímulos fiscais. O FMI estima que as economias avançadas em geral cresçam 5,6% em 2021 e 4,4% em 2022. A melhoria significativa do outlook para os EUA prende-se com os planos da administração Biden para o investimento em infraestruturas e a expansão da rede de segurança social. O FMI considera que este suporte adicional poderá adicionar cerca de 0,3pp e 1,1pp ao PIB dos EUA, em 2021 e 2022 respetivamente. A revisão em alta para os EUA é parcialmente compensada pelo downgrade de estimativas de crescimento económico para o Japão, que foram revistas em baixa de 0,5pp, para 2021, em resultado das restrições mais estritas impostas no decorrer do 1S21 em função da subida no número de infeções por covid-19.
Já nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, a previsão para 2021 foi revista em baixa de 0,4pp, sobretudo devido ao downgrade de estimativas para as economias asiáticas emergentes. Em geral, o FMI estima que os mercados emergentes e economias em desenvolvimento cresçam 6,3% em 2021 e 5,2% em 2022. As perspetivas de crescimento para a Índia foram revistas em baixa devido à gravidade da segunda vaga de Covid-19 nos meses de março a maio. Em geral, o grupo ASEAN-5 (Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietname) também está a sofrer um revés na atividade económica devido às recentes vagas virais. No caso da China, a previsão para 2021 foi revista em baixa de 0,3pp, para 8,1%, devido à redução nas estimativas para o investimento público e para o suporte fiscal como um todo. Em geral, as estimativas de crescimento para as restantes regiões, em 2021, foram revistas em alta devido ao desempenho acima do esperado no 1T21. Destaque para o upgrade de estimativas para a América Latina e Caraíbas motivado sobretudo pelas revisões em alta para o Brasil e para o México, com este último a beneficiar também da melhoria de outlook dos EUA. As projeções para o Médio Oriente e Ásia Central foram revistas em alta devido às melhorias nalguns países, nomeadamente em Marrocos e no Paquistão. A estimativa para a Africa Subsariana, em 2021, permaneceu inalterada com a revisão em alta para a Africa do Sul a ser compensada pelos downgrades noutros países da região.
Revisões do crescimento económico por região/país
Em termos de principais hipóteses assumidas no cenário central traçado pelo FMI, importa referir a assunção de que a propagação do vírus passa a ficar sob controle, um pouco por todo o globo, no final de 2022 em resultado da conjugação entre uma atitude de maior precaução e uma notória melhoria no acesso a vacinas e tratamentos. As economias avançadas já atingiram a disponibilidade generalizada de vacinas no Verão deste ano e alguns mercados emergentes poderão alcançar esse estado até ao final de 2021. A maioria dos países obterá o acesso generalizado às vacinas no final de 2022. Apesar disso, o cenário central contempla a possibilidade de surgimento de vagas virais adicionais até às vacinas estarem generalizadamente disponíveis.
No que respeita à política fiscal, o cenário central incorpora os valores previstos no American Jobs Plan e American Families Plan para os EUA. No caso da Europa, o cenário base também contempla as subvenções e empréstimos previstos no Next Generation EU.
No que se refere à política monetária, o cenário base assume que os principais bancos centrais deverão manter inalteradas as taxas de juro de referência até ao final de 2022. No caso dos mercados emergentes, alguns bancos centrais já começaram a diminuir o seu suporte e admite-se que mais alguns se possam juntar ao longo de 2021.
Face às anteriores estimativas (WEO abril 2021), o cenário central incorpora agora subidas de preço mais significativas para as commodities. Os preços do petróleo deverão subir 60% face aos níveis de 2020. As restantes commodities deverão registar uma subida de preços na ordem dos 30% face a 2020, em especial no caso dos metais e dos alimentos.
Por último, o FMI alerta para a acumulação de um excesso de poupança por parte das famílias ao longo dos últimos trimestres. Tal como se pode observar no gráfico abaixo, a instituição dá nota que a acumulação de poupanças tendeu a ser superior nos países que disponibilizaram maiores apoios fiscais ao rendimento das famílias. O FMI reconhece que a velocidade à qual o excesso de poupança acumulado pelas famílias irá ser gasto fará diferença no ritmo de recuperação económica, prevendo no seu cenário central o dispêndio gradual desse excesso acumulado.
A acumulação de poupança das famílias tende a ser maior nos países que disponibilizam maiores apoios diretos ao rendimento dos indivíduos
O FMI admite que nesta fase o cenário central ainda está envolto num elevado grau de incerteza e enumera alguns riscos principais. Uma maior lentidão no processo de vacinação nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento poderá permitir a propagação de novas variantes, com risco de infeção mesmo para as populações vacinadas. O adiar do fim da crise de saúde global deverá, por sua vez, comprometer a velocidade à qual as famílias despendem as poupanças acumuladas, uma vez que permanecerão preocupadas com as perspetivas futuras de emprego e rendimento. Por outro lado, se as pressões inflacionistas persistirem no tempo, existe o risco de aperto da política monetária, nomeadamente nos EUA. Desta forma, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento correm o risco de serem afetados por um choque duplo que envolva, por um lado, uma deterioração ao nível da pandemia, e por outro, um aperto nas suas condições de financiamento.
Relativamente à inflação, o FMI considera que as recentes pressões ao nível dos preços estão relacionadas com a pandemia e com desequilíbrios transitórios entre procura e oferta. Nalguns mercados emergentes e economias em desenvolvimento na Africa Subsariana, no Médio Oriente e na Ásia Central, os preços dos alimentos subiram de forma significativa não só por situações de escassez, mas pela consequente escalada dos preços a nível global. A depreciação cambial também fez disparar os preços dos bens importados, contribuindo para o acréscimo de inflação. No entanto, a inflação Core permanece controlada na maioria dos casos. O FMI considera que a recente aceleração da inflação Core nos EUA (em itens como automóveis usados, tarifas aéreas, madeira) reflete sobretudo disrupções ligadas à pandemia. A instituição afirma que a trajetória de crescimento salarial, nos últimos 12 meses, não aponta para uma pressão generalizada no mercado laboral norte-americano e que o mesmo se verifica para países como Canadá, Espanha e Reino Unido. Assim sendo, o FMI prevê que, na maioria dos países, a inflação regresse aos níveis pré pandemia, em 2022, logo que os distúrbios existentes possam normalizar.
Ainda assim, a organização admite grande incerteza afirmando que, em 2022, a inflação deverá permanecer alta nalguns mercados emergentes e economias em desenvolvimento, em parte devido à continuação da pressão sobre o preço dos alimentos e ao lag do efeito da subida do preço do petróleo nas importações. Os fatores em jogo incluem a aceleração da procura a par dos bloqueios logísticos ao nível da oferta, a subida dos preços das commodities, a expansão da política fiscal e monetária, bem como o eventual gasto do excesso de poupança das famílias. O receio de que algumas destas pressões transitórias possam persistir por mais tempo, bem como a conjugação de todos estes fatores poderá provocar um aumento das expectativas de inflação de médio prazo (que por agora parecem estar ancoradas em torno dos targets dos bancos centrais nas principais economias).
O FMI aconselha que os bancos centrais em geral considerem as atuais pressões inflacionistas como temporárias e que evitem o aperto da política monetária enquanto as dinâmicas de preços subjacentes não forem mais claras. Para o efeito de formação das expectativas de inflação, os bancos centrais devem ser claros na comunicação da sua política monetária, por forma a prevenir contra um aperto prematuro das condições de financiamento.
Por fim, o FMI leva a cabo uma análise de cenários alternativos, a qual contempla dois exercícios: i) Downside scenario 1, com foco nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento; ii) Downside scenario 2, abarcando o risco que novas variantes podem trazer também às economias avançadas.
No Downside scenario 1, assume-se que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento serão atingidos por uma nova vaga de Covid-19 assente em novas variantes, ainda no semestre em curso. A necessidade de imposição de restrições à mobilidade provocaria um abrandamento que se faria sentir até ao 1T22. Adicionalmente, as pressões inflacionistas nas economias avançadas revelar-se-iam mais persistentes do que o esperado e a normalização da política monetária teria lugar mais cedo do que o assumido no cenário central. Desta forma, as condições de financiamento para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento agravar-se-iam com a subida das taxas de juro de longo prazo e o aumento dos spreads de crédito. Face ao cenário central, o PIB global diminuiria 0,75pp em 2021 e mais de 0,5pp em 2022. Em 2025, o output global fica cerca de 1% abaixo da previsão central. O custo acumulado em termos de perda de output global, em 2025, é de aproximadamente 4,5 biliões de dólares, sendo que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento suportam a maior parte da perda, cerca de 3,5 biliões de dólares.
No Downside scenario 2, assume-se que o surgimento de novas variantes mais contagiosas afeta não só os países com baixas taxas de vacinação, mas também muitas economias avançadas independentemente da grande adesão aos programas de vacinação. O cenário explora as implicações do surgimento de uma variante muito contagiosa, 50% mais contagiosa que a variante alfa. Assume-se que a eficácia das vacinas contra esta nova variante é a mesma, no entanto, a desconfiança face às vacinas vai acabar por reduzir o número de pessoas vacinadas. O aumento das taxas de infeção deverá provocar uma diminuição da mobilidade mesmo em muitas economias avançadas. Assume-se que a relação entre mobilidade e atividade económica é a mesma que foi observada durante o 4T20 e 1T21. O impacto poderá ser moderado nos países com elevada cobertura de vacinas, nomeadamente o Reino Unido e o Canadá. No entanto, os países do G20 que se encontram mais atrasados na vacinação, nomeadamente a India e a Indonésia, poderão sofrer maiores impactos.
Evolução dos novos casos de covid-19
O prolongar da fraqueza na atividade económica trará prejuízos duradouros ao nível da capacidade de oferta das economias. Face ao cenário central, o crescimento do PIB global é inferior em mais de 0,8pp em 2021 e 2022. O crescimento do PIB nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento fica cerca de 1pp abaixo do cenário central para 2021 e 2022. Para o mesmo período, o crescimento nas economias avançadas será inferior em 0,75pp ao estimado para o cenário central. Em 2025, o output ainda fica 0,5% abaixo do cenário central, sendo a perda acumulada até esse ano muito semelhante ao Downside Scenario 1, ligeiramente abaixo de 4,5 biliões de dólares. Neste caso, as economias avançadas suportam a maior proporção da perda, com um valor perdido superior a 2,5 biliões de dólares.
Reduções ao crescimento – por região e downside scenario (1 e 2)
Em suma, o FMI estima que a economia mundial cresça 6,0% em 2021 e 4,9% em 2022, tendo mantido inalterada a estimativa para o corrente ano e revisto em alta de 0,5pp a projeção para 2022, devido ao upgrade na previsão para a economia americana. A instituição sublinha que o acesso à vacinação deverá ter provocado uma maior divergência nas dinâmicas de crescimento entre as várias economias face ao quadro previsto no anterior WEO (abril de 2021). De qualquer forma, o FMI afirma que mesmo nas regiões onde a pandemia parece estar sob controle, a recuperação poderá não estar totalmente assegurada enquanto o vírus se puder propagar noutros locais ou sofrer novas mutações. Nesta fase, o FMI admite que o cenário central ainda está envolto num elevado grau de incerteza em resultado da maior lentidão no processo de vacinação dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento e/ou da necessidade da normalização antecipada da política monetária em resposta a pressões inflacionistas mais persistentes.