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Weekly Note

Pandemia Covid-19

Sixty Degrees analisa evolução recente da propagação da doença na principais geografias a nível mundial

Nas duas últimas semanas, assistimos a um claro agravamento da propagação do vírus Covid-19 a nível mundial e em especial nos países do Ocidente. No passado dia 11 de março, a OMS – Organização Mundial de Saúde – declarou oficialmente o surto como uma “pandemia”. Na presente nota pretendemos fazer um pequeno ponto de situação a nível global, aproveitando para destacar alguns cenários para a evolução da doença nos EUA e efeitos sobre essa economia.

Com base nos últimos dados disponíveis, nos últimos dois dias e pela primeira vez desde o início do surto, a China não registou novos casos de infeção doméstica. Os últimos 25 novos casos diários dizem respeito a pessoas que contraíram o vírus fora do país. Em Wuhan começou a ser levantado o recolher obrigatório após 6 semanas decorridas. A diminuição no número de casos nesta cidade surgiu após 3 semanas da imposição do recolher obrigatório.

Nesta fase assiste-se à redução no número de casos na China e na Coreia do Sul
Fonte: Pantheon Macroeconomics

Em Itália, o número de casos continua a aumentar fortemente. No último dia disponível (19 março), o número de casos aumentou 14,9%, o maior crescimento dos últimos 4 dias. No entanto, a expectativa é de que o surto continue a aumentar, mas não a acelerar. Tomando como exemplo o sucedido na China e/ou na Coreia, espera-se que na próxima semana a taxa de crescimento de novos casos em Itália possa abrandar, devido à imposição de fortes medidas de recolher obrigatório.

Nos restantes países europeus, a taxa de crescimento de novos casos é superior à de Itália porque as medidas de recolher obrigatório foram impostas mais recentemente. No último dia disponível (19 março), o aumento médio de casos foi de 25,0% considerando Alemanha, França, Espanha, Suíça, Áustria, Holanda e Bélgica no seu conjunto. Ainda assim, a taxa de crescimento de novos casos tem vindo a desacelerar e espera-se que abrande significativamente daqui a 2 semanas, tendo em conta as fortes medidas implementadas e tomando como exemplo os padrões verificados na província de Hubei e na Coreia do Sul. A Europa aplicou medidas assertivas de recolher obrigatório, fecho de fronteiras e restrição de viagens intra-europeias.

Nos restantes países europeus, a taxa de crescimento de novos casos é superior a Itália
Fonte: Pantheon Macroeconomics

Os EUA encontram-se numa fase mais inicial do surto e como tal o número de casos tem continuado a disparar. A taxa de crescimento de novos casos está a aumentar devido à continuação da propagação do vírus e à aceleração na realização de testes. À medida que mais estados/cidades imponham medidas de recolher obrigatório, espera-se que a taxa de crescimento de novas infeções possa abrandar já no início de abril. Seguindo os padrões de exemplo já referidos, o número de novos casos poderá atingir um pico no final de abril e uma diminuição em maio.

Os EUA encontram-se numa fase mais inicial do surto e o número de casos tem disparado
Fonte: Pantheon Macroeconomics

Em termos globais, no último dia disponível (19 março), o número de mortes aumentou 13,0%, o maior crescimento dos últimos 6 dias, apresentando um lag natural face à evolução do número de casos.

Importa mencionar que os dados referentes ao número de casos não são de total fiabilidade, já que dependem da intensidade da realização de testes, a qual não é semelhante em todos os países. Os países que levam a cabo um maior esforço de testes tenderão a reportar taxas de infeção superiores. Assim sendo, a forma mais fiável para avaliar a evolução do surto será através da monitorização do número de mortes. A epidemia estará a reduzir-se quando a taxa de crescimento do número de mortes diminuir de forma clara.

Será também interessante referir que as taxas de mortalidade variam fortemente entre países devido essencialmente a 3 fatores: idade, percentagem de fumadores e qualidade do ar. Por comparação, a China tem uma idade média populacional semelhante à dos EUA, mas uma baixa qualidade do ar e o dobro da taxa de fumadores. Já Itália tem uma boa qualidade do ar, mas a sua população é mais envelhecida e apresenta uma percentagem de fumadores elevada.

Estudos disponíveis apontam para que num surto desta gravidade, o número de casos possa duplicar cada 3 a 4 dias, tornando a progressão verdadeiramente catastrófica. No entanto, essa evolução só é válida se não forem tidas em conta quaisquer medidas de mitigação. A imposição de recolher obrigatório, redução de viagens e melhorias nos hábitos de higiene provocam um forte abrandamento na propagação do vírus. Para além dos exemplos já mencionados, nomeadamente China e Coreia, o próprio caso italiano assim o parece comprovar. A taxa de crescimento de casos na província de Veneto, que testou uma elevada proporção da sua população e impôs recolher obrigatório atempado, tem sido claramente inferior à registada na Lombardia.

No que se refere aos EUA, que se encontram numa fase mais inicial do surto, importa referir quais os potenciais cenários de evolução que poderão advir. A esse propósito, o analista da Raymond James, Chris Meekins, antigo colaborador do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (na área de prevenção e resposta em emergências de saúde pública), traça 4 possíveis cenários que valerá a pena aqui mencionar:

O primeiro cenário é denominado “Stop Everything Now” e pressupõe que as autoridades são eficazes, impondo atempadamente o recolher obrigatório e o encerramento das atividades não essenciais durante 2 semanas a partir do momento atual. O país realiza testes de forma intensiva, o que permite identificar de forma precisa o número de infetados. A população entende a ameaça e cumpre as medidas impostas. Ao final de 2 semanas, o número de casos começa a abrandar. No total, o número de infetados atinge um valor inferior a 500,000 e a situação estará ultrapassada no final de abril. O impacto económico é severo, mas pouco prolongado.

O segundo cenário denomina-se “Eventually we get it” e pressupõe que as autoridades são lentas na tomada de medidas e vão agindo à medida que a propagação do vírus se agrava. A população não entende o vírus como uma ameaça real e só cumpre as medidas de mitigação quando observa o forte disparo no número de casos e mortes. Os hospitais ficam sobrelotados e têm necessidade de recursos adicionais. Neste cenário, o número de infetados fica próximo de 1,000,000 e a situação só é debelada no Memorial Day (25 de maio). O impacto económico é mais prolongado e afeta negativamente a fase inicial do período de férias de Verão.

O terceiro cenário intitula-se “Saved by Summer” e, tal como o anterior, pressupõe que as autoridades são lentas na tomada de medidas e que a população também não entende o vírus como uma ameaça real. No entanto, a reprodução do vírus abranda com a subida da temperatura e o aproximar do Verão, oferecendo uma “salvação” às autoridades e à população. O número de infetados supera 1,000,000 e a situação é ultrapassada a 4 de julho. O impacto económico é mais nefasto, com a possibilidade de recessão durante três trimestres. Dada a maior gravidade da situação, os consumidores mantêm receios quanto a frequentar centros comerciais, restaurante e bares durante um período que poderá durar até três meses após o pico de infeções.

Por último, o quarto cenário denomina-se “Failure is an option”. Na fase atual, este cenário tem já uma baixa probabilidade pois as autoridades já iniciaram a tomada de ação. Neste cenário, as autoridades falhariam totalmente na tomada de medidas, o Verão não contribuiria para um abrandamento do vírus e o surto propagar-se-ia de forma descontrolada. O sistema hospitalar atingiria uma situação limite. O número de infetados poderia atingir 100,000,000 e o número de mortes cerca de 1,000,000. A situação só seria debelada aquando do Labor Day (7 setembro). A recessão seria prolongada no tempo e os receios dos consumidores perpetuar-se-iam no tempo.

Especificamente em relação aos EUA e no que respeita a medidas económicas e financeiras importa referir o que já foi anunciado pelas autoridades.

A Reserva Federal cortou as taxas de juro de referência por duas vezes no presente mês, num total de 1,5 pontos percentuais, para um intervalo entre 0% e 0,25%. Adicionalmente, foi anunciado um pacote de compra de ativos no valor de 700 mil milhões de dólares, que abrangerá obrigações do Tesouro e dívida hipotecária. A Reserva Federal anunciou também medidas destinadas a manter a liquidez nos mercados de curto prazo. A linha de financiamento de papel comercial às empresas americanas, CPPF – Commercial Paper Funding Facility, não tem montante limite e deverá vigorar durante 1 ano. A linha MMLF – Money Market Mutual Fund Liquidity Facility destina-se a apoiar os fundos de investimento que se deparem com ondas de resgates.

Para além destas medidas, o governo encontra-se em fase de negociação de um pacote de estímulos fiscais, que poderá atingir cerca de 2 biliões de dólares, ou seja, 9% do PIB. As propostas incluem variadas medidas tais como: pagamentos diretos a indivíduos, alívio nos seus encargos com rendas e empréstimos, maiores apoios em baixa por doença e desemprego, adiamento da data de pagamento de impostos por parte de indivíduos e empresas de 15 de abril para 15 de julho, concessão de empréstimos e garantias a empresas afetadas pela crise e PMEs em geral, takeovers estatais temporários em setores fortemente afetados como companhias aéreas e turismo, facilitação ao nível da regulação bancária e aumento da capacidade de resposta do sistema hospitalar através de reforço de staff e equipamentos.

Nesta fase, importa também indagar sobre os efeitos desta crise na economia americana. Na sequência da propagação do vírus e das medidas de mitigação levadas a cabo pelos diversos países, temos assistido a uma revisão em baixa das estimativas de crescimento mundial para o primeiro e segundo trimestres. O banco de investimento JP Morgan estima que os EUA deverão registar uma recessão de 2% e 3% no primeiro e segundo trimestres, respetivamente, crescendo de forma modesta no ano como um todo. A Capital Economics reduziu em 0,8 pontos percentuais a sua estimativa de crescimento para a economia americana este ano, estimando agora um crescimento muito ligeiro. Já a Pantheon Macroeconomics apresenta estimativas mais pessimistas, prevendo uma recessão nos EUA de 2% e 10% para o primeiro e segundo trimestres, respetivamente, precipitando um crescimento negativo de 1,0% para a totalidade do corrente ano.

O consumo discricionário (excluindo despesas com habitação, saúde, alimentação e energia) representa 39% do PIB americano e deverá sofrer fortes reduções no segundo trimestre em virtude das medidas de recolher obrigatório, encerramento de atividades comerciais não essenciais e proibição de viagens. Os últimos dados disponíveis mostravam uma queda de 56% face ao ano anterior nas reservas de restaurantes nos EUA através da plataforma Open Table, quando dias antes estavam a registar um crescimento anual de 2%. A taxa de ocupação hoteleira na semana até 7 de março já estava a registar um recuo anual de 7,3 pontos percentuais, o qual tenderá a piorar nas semanas seguintes. A expectativa é de que as vendas a retalho registem uma contração forte e que o eventual crescimento no online não seja de todo suficiente para compensar as quebras.

O índice Philly Fed, recentemente divulgado, registou uma forte queda (49,4), equivalente à maior redução mensal de sempre. O valor deste indicador sugere que o ISM manufatura, a nível nacional, deverá recuar para os 43 pontos, valor associado a situações de recessão acentuada.

O índice Philly Fed sugere ISM manufatura em nível de recessão acentuada.
Fonte: Pantheon Macroeconomics

Por último, existe grande expectativa sobre os dados de subsídios de desemprego (jobless claims) relativos à semana que agora termina. Na passada quarta-feira, o governador da Califórnia afirmou que os pedidos de subsídio de desemprego tinham iniciado a semana na ordem dos 40 mil por dia e que teriam evoluído para 80 mil requisições diárias. Este ritmo de crescimento deixa antever que só o estado da Califórnia poderá reportar um número total semanal de 400 mil pedidos. Se assim for, os jobless claims a nível nacional poderão atingir um valor entre 2 a 3 milhões referente à semana passada como um todo. A título de comparação, na anterior recessão de 2007-2009, a pior semana para este indicador revelou um aumento de 665 mil pedidos.

Em fevereiro deste ano, o setor de turismo americano empregava cerca de 16,9 milhões de pessoas. Caso a procura registe quedas de aproximadamente 50%, poderemos facilmente assistir à redução deste valor para menos de 10 milhões de trabalhadores. Uma perda de 1 milhão de empregos corresponde a um aumento de 0,7 pontos percentuais na taxa de desemprego. No final de 2019, a taxa de desemprego nos EUA situava-se em 3,7%.

Em suma, é natural que a crise atual provoque uma forte desaceleração económica nos EUA. A duração da recessão deverá depender essencialmente da evolução da propagação do vírus e da capacidade de resposta do país em controlar a situação o mais rápido possível e assim regressar ao seu normal funcionamento. Numa situação como a atual, os consumidores poderão demorar algum tempo a retomar os seus anteriores hábitos e padrões de consumo, criando mais uma camada de incerteza quanto ao timing da retoma. As medidas de estímulo fiscal poderão contribuir positivamente sobretudo numa fase posterior de recuperação, mas para já não parecem ser suficientes para restaurar a confiança na direção económica do país.

A Sixty Degrees continua a recomendar uma abordagem cautelosa aos ativos de risco no atual contexto de mercado, especialmente no que toca à avaliação da liquidez dos mesmos. Os investidores devem usar a flexibilidade que a liquidez lhes traz para se posicionarem corretamente na recuperação futura das valorizações dos ativos de risco.

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